PUC-Campinas é notificada pelo Ministério Público por caso de racismo

Aluna supostamente ofendida continua esperando o processo de sindicância interna da universidade, que promete averiguar o caso

Manifestação contra racismo na Puc Campinas
Foto: Noemy Ariane
Manifestação contra racismo na Puc Campinas

Na última quarta-feira (18), a PUC-Campinas recebeu uma série de notificações feitas pelo Ministério Público de São Paulo sobre caso de racismo praticado contra a aluna Noemy Ariane Tomas, durante sarau literário que marcava a reabertura do Centro Acadêmico de Ciências Sociais na universidade.

Segundo Caio Madeira, músico e compositor presente no dia do evento, Noemy - que cursa o primeiro ano de Ciências Sociais - recitava o poema "Me gritaram Negra" quando um aluno do curso de Direito começou a imitar um macaco em uma escada, ao lado do sarau.

“O poema era justamente sobre se descobrir negra e as implicações sociais disso - de forma que ela estava constantemente bradando a palavra ‘negra’ com orgulho e força”, disse o compositor.

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Caio afirmou que um grupo de estudantes presentes no sarau foi atrás do aluno, e alguns voltaram chorando por terem sido ofendidos.

“Noemy pegou o microfone e disse que por mais que fosse incômodo para alguns, negros e negras continuariam a ocupar a universidade sim, e cada vez mais”.

Em depoimento ao iG Último Segundo, Noemy preferiu não comentar o caso e diz estar “aguardando a sindicância interna ” da universidade.

A jornalista e autora do livro “A Negra Cor que resiste nas ruas Campineiras”, Geovanna Bispo, pensa que se a população negra não tomar voz , isso vai continuar acontecendo com evidência.

“A gente tem que parar de pensar que foi injúria racial. As pessoas confundem racismo com injúria racial. Isso é racismo ”, conclui a jornalista.

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Ato de Solidariedade

Foto: Noemy Ariane
'Me gritaram negra e eu resisti', diz cartaz


Diversos grupos, formados por estudantes da universidade, realizaram um ato pacífico na última segunda-feira (16) apoiando Noemy e exigindo punições para o estudante de direito, que não quis gravar entrevista.

Além disso, inúmeras páginas do Facebook, como “Te vi na Puccamp”, “União de Jovens Comunistas da Puccamp (UJC)”, e de outras faculdades da região, como a Unicamp, se solidarizaram com a aluna ofendida e repudiaram o autor das ofensas.

A Universidade diz ter instaurado um processo de sindicância interna “para investigar as supostas ofensas racistas envolvendo os estudantes” e que “acompanha as investigações conduzidas pela Polícia Civil após o registro do Boletim de Ocorrência pela aluna”.

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“É importante salientar o caráter retraído que a PUC-Campinas tem tomado em casos como esse. As sindicâncias internas, que averiguam essas situações pouco surtem efeito, apenas provêem quando há interferência do Ministério Público, de reportagens da mídia e principalmente quando há uma pressão da massa estudantil”, diz aluno. A fonte, que é membro do Centro de Ciências Humanas e Sociais Aplicadas (CCHSA) e militante da UJC, solicitou anonimato.

“É bom salientar também que o racismo é um problema sistêmico, o estado e grande parte dos capitalistas lucram toneladas em cima do sangue preto. A superação do racismo não vai se dar por grandes corporações promovendo falsos discursos de inclusão, mas sim, por uma luta anti-racista acoplada na luta anticapitalista”, concluiu.

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Racismo é crime


Discriminar as pessoas pela cor da pele é crime. A lei prevê que, se comprovado o ato de racismo, o indivíduo pode ser condenado de um a cinco anos de prisão . A Lei de nº 7.716 surgiu há pouco mais de 30 anos e tenta combater crimes ligados ao racismo.

Veja algumas imagens que circularam nas redes sociais , incluindo movimentos que iniciaram após o ato de racismo, como "Relatos Sobre Machismo".

Foto: Facebook/ Unicamp
Unicamp faz manifestação em prol de aluna que sofreu racismo na Puc Campinas




Foto: Noemy Ariane
Imagem da manifestação circula em redes sociais