Há mais de 100 anos, os brasileiros têm contato com a soja. Mas a primeira vez que tentaram cultivá-la por aqui, após a chegada da espécie pela Bahia, em 1882, não deu certo. E os primeiros plantios comerciais ocorreram só a partir de 1924, no Rio Grande do Sul.
Hoje o país é o maior produtor mundial, com 147 milhões de toneladas. Nesses mais de 100 anos, os agricultores e pesquisadors foram aprendendo e aprimorando técnicas e espécies para chegar ao patamar atual no mundo.
Nomes e genética chinesa
Desde o início, foi necessário estudar bastante formas de ampliar o cultivo da soja. “O produtor brasileiro usava cultivares importadas dos Estados Unidos, adaptadas apenas ao Sul do Brasil”, explica o pesquisador Carlos Arrabal Arias, da Embrapa, que lançou uma linha do tempo contando a história do grão.
E os nomes são bastante diversificados: Pelicano (cultivada até os anos 1960), Bragg e Davis (produção no Sul e Sudeste), Amarela Comum (trazida dos EUA há mais de 100 anos, fundamental para a expansão da soja no Brasil), além de outras com siglas, como BRS 232 e BRS 284 (adaptação ao plantio do milho safrinha), BRS 511 e BRS 1003IPRO (resistente à ferrugem e a percevejos).
A soja é cultivada na China há mais de 4 mil anos. É uma planta selvagem que cresceu na costa leste da Ásia, foi domesticada pelos chineses, tornando-se uma das culturas agrícolas mais antigas do mundo. A genética se mantém, mas sofreu adaptações.
“A soja semeada atualmente tem a constituição genética ancestral chinesa, mas é diferente tanto em termos de aparência em características morfológicas e produtivas”, explica Alexandre Nepomuceno, chefe-geral da Embrapa Soja.
Primeiras tentativas
Segundo a publicação "A saga da soja: de 1050 aC a 2050 dC", após chegar à Bahia, os primeiros testes com cultivares importadas dos Estados Unidos não tiveram sucesso.
Somente no Rio Grande do Sul, em 1914, a soja encontrou condições e, após um período de adaptação, passou a ser cultivada comercialmente a partir de 1924.
Os métodos antigos fizeram parte da rotina do produtor rural José Tiago Dias, que cultiva soja há 54 anos em Ubiratã (PR). “Na década de 1970, não tínhamos plantadeiras. Jogávamos seis sacos de 60 quilos por alqueire e plantávamos com 'matraquinha'. Mesmo assim, era a soja mais rentável da época. Hoje, vejo muitas variedades novas, mas aquelas antigas ficam na memória”, comenta.
Banco de germoplasma
A Embrapa tem um Banco Ativo de Germoplasma, uma coleção com aproximadamente 65 mil tipos de soja, provenientes dos Estados Unidos, África, Europa, Ásia, Oriente Médio e Oceania.
“O banco guarda a variabilidade genética da soja. Quanto maiores as variedades diferentes e caracterizadas, melhor é a utilização nos programas de melhoramento”, explica o pesquisador Marcelo Fernandes.Criado em 1976, o acervo da Embrapa é o segundo maior banco de sementes de soja do mundo, com 21 tipos de soja selvagem, principalmente da Austrália, e 3 mil da ancestral da soja cultivada. Um ano antes foi fundada a Embrapa Soja. Além do desenvolvimento de novas cultivares, a Embrapa e os parceiros criaram um sistema de produção adaptado ao Cerrado e outras regiões do Brasil.
Isso inclui o tratamento do solo, controle de pragas e doenças, melhoria na qualidade das sementes e outras inovações que garantem a sustentabilidade da cultura da soja no país.