Um estudo feito pelo Observatório PUC-Campinas
mostra que 71% dos investimentos confirmados entre os primeiros trimestres de 2019 e 2020 na RMC
( Região Metropolitano de Campinas
) são liderados por atividades de serviços. Especialistas explicam que esse avanço do setor pode comprometer a dinâmica econômica regional
e a geração de melhores empregos.
De acordo com o estudo, os investimentos foram maiores nas atividades de baixo valor, que são aquelas voltadas ao consumo das famílias, tais como os serviços de saúde, alimentação e transporte.
Assim como destaca o professor extensionista Cristiano Monteiro
, economista responsável pela análise, essa dinâmica de investimentos focada em serviços de baixo valor origina uma macroeconomia de emprego mais precário e de baixo nível de renda.
Só para se ter uma ideia, dos 37 investimentos efetivados pelo setor, com início em janeiro de 2019 e término em março de 2020, sete estavam relacionados às atividades de saúde, cinco aos serviços de transporte e energia elétrica, quatro ao segmento de energia elétrica, e três aos serviços de alimentação.
Os demais foram distribuídos em atividades bancárias, de administração pública, rede de esgoto, tecnologias da informação, cultura, consultoria empresarial e educação.
"Se a economia local depender somente desses serviços de baixo valor, esses efeitos sistêmicos e macroeconômicos vão trazer retração para a economia, para a arrecadação do setor público e para todas as atividades que envolvem o sistema econômico", comentou o docente.
E POR QUE SÃO CONSIDERADOS DE BAIXO VALOR?
Segundo explica Monteiro, nem todos os investimentos em serviços são considerados de baixo valor, uma vez que sua classificação depende da capacidade que determinado serviço tem de movimentar a economia. Sendo assim, uma atividade é considerada de alto valor quando é mais intensiva em tecnologias, conhecimento, e se destina principalmente ao consumo das produções.
Essas atividades são consideradas serviços especializados, que podem ser vendidos para empresas do setor industrial, para empresas do setor de comércio, inclusive para grandes empresas do próprio setor de serviços. O problema é que os serviços apontados no estudo como de baixo valor, e que lideram os investimentos na RMC, são aqueles destinados à família.
"O valor gerado para essas atividades, e consequentemente toda empregabilidade e renda, não tem capacidade dinâmica para economia local e regional, por isso é considerada de baixo valor. É importante verificar o investimento nessas atividades, porque evidentemente gera atividades de negócio e serviços, porém elas possuem dinâmica menor do que outras, e acabam impactando de uma forma diferente e de baixo valor na atividade econômica local", destaca.
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Esse avanço do setor na região, segundo ele, se deu principalmente pela condição estrutural econômica na RMC. "Por exemplo, em Campinas se observa um crescimento significativo da participação dos serviços no produto do município. A expressão disso é que os gastos produtivos e investimentos acabam sendo conduzidos por esse setor que tem maior expressividade no produto municipal", argumenta.
E O SETOR DE INDÚSTRIA?
O especialista acredita que o baixo número de investimentos nos serviços especializados, ligados ao consumo das empresas para efeitos de inovação tecnológica e desempenho corporativo, revela a dificuldade da região em provocar densidade industrial.
Dos 52 investimentos confirmados na RMC entre os primeiros trimestres de 2019 e 2020, apenas sete (13,4%) foram realizados pelo setor industrial, que sustenta a dinâmica econômica e oferece, de modo geral, melhores empregos e salários.
O restante dos investimentos efetuados no período esteve ligado ao setor comercial. Desse total, sete (85,5%) foram destinados ao comércio varejista. Segundo o economista, essa diferença pode estar ligada à migração ou entrada de empresas no e-commerce, que ganhou popularidade nos últimos anos. Essa tendência é ainda mais forte após as mudanças de consumo provocadas pela pandemia.
"A falta de investimentos no Setor da Indústria, indicando redução de sua atividade produtiva, implica na queda dos serviços de alto valor oferecidos às empresas, como Inteligência Artificial, TI, Marketing, entre outros. Seria relevante promover investimentos em serviços especializados que possam ser mais conectados com as organizações instaladas na cadeia de fornecimento dos grandes sistemas produtivos da Indústria", complementa Monteiro.
Para Monteiro, o desafio da RMC é montar estratégias e políticas para fomentar investimentos em serviços especializados.
"Nós temos essa dificuldade do investimento pela falta da densidade industrial, mas por outro lado também cabe observar que nós temos a oportunidade de construir estratégias que possam provocar essa densidade produtiva, garantindo competitividade, empregabilidade e dinâmica econômica regional", acrescenta.
QUEDA DE 73% NOS INVESTIMENTOS DA REGIÃO
Além das instabilidades econômicas provocadas pelo avanço dos investimentos no setor de serviços, a RMC enfrenta outro grande problema: o declínio de investimentos efetivados entre 1º trimestre de 2019 e o 1º trimestre de 2020. Durante esse período, a região registrou 52 investimentos no total.
Somente no 1º trimestre de 2019, 15 investimentos foram feitos na RMC. No entanto, de lá para cá, o número só caiu. Isso porque, nos quatro trimestres seguintes, foram 13 (2º tri/19), 12 (3º tri/19), 8 (4º tri/19) e 4 (1º tri/20) investimentos confirmados.
Houve diminuição de 73,3% se comparado o 1º trimestre deste ano com o mesmo período do ano de 2019.
"A trajetória de investimentos seguiu como declinante, sendo que esse processo regressivo teve o ponto mais crítico no início de 2020. Diga-se de passagem, essa mencionada regressão guarda nexos com a crise social que envolve a pandemia de covid-19, inclusive os fatores críticos ligados à dinâmica econômica", avalia.
Do total de investimentos (52), 31 (59,6%) foram realizados em Campinas, sobretudo, segundo o docente, pela condição estrutural do município em relação às demais localidades da região. O estudo mostra, ainda, que 52% (27 investimentos) destinaram-se à ampliação ou modernização de estruturas existentes, e 48% para implantação de novas estruturas produtivas.