"Por que você está me dando isso?" Foi essa a frase mais ouvida pelo investidor Paulo Belliboni, um dos idealizadores do Projeto Toca, em uma ação que entregou biscoitos para motoboys em semáforos de São Paulo.
"Estamos tão mal acostumados com a falta de carinho e atenção que ninguém mais acredita quando recebe alguma coisa de graça. Pensam que é pegadinha", disse Paulo.
Ele, sua mãe Tita e a amiga Clara Verdier, artista, perceberam logo no começo da pandemia da covid-19 que algo deveria ser feito para ajudar profissionais que perderam oportunidades de trabalho na quarentena.
Foi conversando com um amigo músico que relatou as agruras de sobreviver sem poder se apresentar ao público, e vendo o sacrifício de profissionais que sofriam (e ainda sofrem) por terem que trabalhar mais ainda para lidar com a pandemia, que Paulo teve a ideia de juntar a fome com a vontade de comer.
Passou a contratar justamente esses trabalhadores recém-ociosos para homenagear outros trabalhadores - inicialmente, do setor de saúde. "Conversamos com conhecidos que têm outros conhecidos que trabalham em hospitais. E assim começamos a abrir portas", lembra o investidor.
RESSACA EMOCIONAL
A primeira ação foi em 12 de maio, em um hospital em Santo André. Músicos e dançarinos que perderam trabalho com a quarentena foram contratados. Doces foram comprados de profissionais que ficaram sem emprego e começaram a cozinhar para complementar a renda.
Na primeira ação, o Toca já imprimiu suas marcas: o café e o símbolo da formiga. "O café é o símbolo do aconchego. Quando a gente chama alguém na nossa casa, oferece um café. Nos chamamos de formigas porque é um animal que só funciona em grupo, e faz muito com pouco", resume Clara.
Depois disso vieram outros hospitais e outros grupos de profissionais. Caminhoneiros, catadores de lixos, motoboys. E as formiguinhas foram percebendo cada vez mais o poder de algo tão simples: o reconhecimento.
"Em um hospital a gente reparou que a turma da limpeza ficou ali no cantinho, escondida, enquanto o músico tocava e os médicos e enfermeiros tomavam café e comiam. A gente chamou, 'pode vir, isso aqui é pra você também, você é importante aqui'. E é incrível o poder que essas palavras têm", lembra Paulo.
Clara destaca outro fator em meio à pandemia. "As pessoas precisavam muito disso. Estava todo mundo em burnout, esgotadas. Muita gente chorava, foi muito forte, havia uma ressaca emocional, todo mundo muito estava sensível", afirma.
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PRÓXIMOS PASSOS
Mesmo com a quarentena praticamente esquecida, o grupo não pretende descansar. A ideia é expandir para outros grupos de profissionais e outras cidades próximas da capital paulista.
O financiamento é 80% do próprio bolso dos integrantes, que agora buscam regularizar o Toca como uma organização sem fins lucrativos para buscar parceiros e patrocinadores que possam bancar as ações.
Para buscar mais informações, apoiar o projeto ou indicar locais para receber as ações do Toca, basta entrar em contato pelo e-mail [email protected] ou pelo
perfil no Instagram do Toca
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