Infectologista explica como se desenvolve uma vacina
Reprodução: ACidade ON
Infectologista explica como se desenvolve uma vacina

Desde que a pandemia do novo coronavírus virou uma realidade no mundo todo, cientistas de diversas áreas e cantos do mundo deram início a uma batalha para desenvolver uma vacina que promovesse a tão almejada imunização contra a doença. 

Entre tantos testes e estudos, algumas já foram autorizadas para aplicação no Brasil, como a vacina chinesa Coronavac e a AstraZeneca, de Oxford, que já estão sendo aplicadas. Ambas levaram quase um ano para serem desenvolvidas e para que tivessem a eficácia aprovada. 

Mas você conhece o processo de desenvolvimento de uma vacina, ao ponto de ser liberada para campanhas de imunização? Para responder essa pergunta, o ACidade ON Campinas conversou com uma especialista sobre o assunto. 

Segundo a médica infectologista Luciana Maria de Hollanda, tradicionalmente, as vacinas levam aproximadamente 15 anos para serem desenvolvidas, sendo a primeira etapa os ensaios pré-clínicos, onde são estudadas a eficácia e a toxicidade em modelos in vitro - células - e in vivo - camundongo ou rato -, com posterior escalonamento desse processo, o que leva alguns anos. 

"Neste período, uma parte do novo medicamento experimental é arquivado e a vacina candidata então entra em testes de fase I, II e III, com os primeiros estudos realizados em humanos", aponta. 

De acordo com Luciana, a fase I leva de 1 a 2 anos, e é quando se demonstra a segurança da vacina. Já na fase II, por cerca de dois anos, se estabelece sua imunogenicidade, ou seja, sua capacidade de provocar uma resposta imune, gerando anticorpos. 

"Finalmente, na fase III, com cerca de dois a três anos, é testada a eficácia da vacina, passando posteriormente ao registro sanitário, que possibilita a produção em larga escala e distribuição para a população", completa. 

VACINA CONTRA A COVID 

Com base no que a história conhece e já testou, talvez surja a dúvida: Como foi possível provar a eficácia da vacina contra a covid-19 em tão pouco tempo de testes? 

Sobre isso, a especialista explica que, com a evolução tecnológica, foi possível acelerar essa produção, ainda que as etapas sejam as mesmas, levando de 10 meses a um ano e meio para se chegar ao imunizante final. 

"Os pesquisadores começaram a utilizar algumas ferramentas de bioinformática e inteligência artificial, que identificam quais os melhores determinantes antigênicos de um dado patógeno, ou, explicando de maneira menos técnica, a menor porção da substância pesquisada capaz de gerar a resposta imune", esclarece. 

Luciana afirma que, com estes recursos, em uma situação de pandemia como vivemos agora, os estudos pré-clínicos duram meses, os testes de fase I, II e II ocorrem concomitantemente à produção em larga escala e, na sequência, o fabricante pede o registro de emergência nas agências regulatórias, para então a vacina começar a ser aplicada na população. 

"Muitas destas vacinas são desenvolvidas de forma colaborativa entre os países, faculdades e indústrias farmacêuticas, e entre indústrias farmacêuticas e os órgãos governamentais, facilitando a obtenção de respostas nos estudos clínicos e pré-clínicos e, finalmente, sua aprovação pelos órgãos competentes", pontua. 

Segundo a OMS (Organização Mundial da Saúde), entre as quase 200 propostas de vacinas em pesquisa contra o SARS-CoV-2, 44 chegaram à fase de testes em humanos e, entre essas, um grupo de 10 projetos atingiu a fase III de estudos, em que dezenas de milhares de voluntários são recrutados para comprovar se a vacina é mesmo capaz de proteger sem causar danos à saúde. 

Por fim, Luciana reforça que, embora o desenvolvimento de vacinas esteja avançando a uma velocidade sem precedentes, ainda há muitas questões em aberto. 

"Ainda são processos em andamento, que precisam caminhar junto com o atendimento urgente das necessidades impostas por uma pandemia, onde todo e qualquer novo recurso eficaz e seguro é bem-vindo", analisa.

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