Uma jovem de Americana é perseguida pelo ex-namorado há dez anos e conta que ele não só a ameaçou, como divulgou fotos íntimas dela na internet e se passou pela vítima nas redes sociais. O caso é investigado pela Polícia Civil, que abriu inquérito por pedofilia , pois na época da divulgação das fotos Beatriz Alencar tinha 16 anos.
O homem, Felipe Marinho, também é investigado por crime de perseguição. De acordo com a SSP (Secretaria de Segurança Pública) de São Paulo, o caso tramita em sigilo. Ele está foragido e não prestou depoimento à polícia ainda.
Na internet, Beatriz Alencar fez um depoimento contando a sua história, que viralizou em março. No texto, ela afirmou que não usava mais as redes sociais e se privou de muita coisa por conta da perseguição que sofre. A jovem diz também que desenvolveu depressão, síndrome de pânico e transtorno de ansiedade por conta da situação.
"Eu morria de medo de ele vazar as fotos, de como as pessoas reagiriam. Por anos esse medo me acompanhou como ameaças por todas as redes sociais que eu tinha, disse. Em 2018, ela se mudou para a Austrália e nessa época o ex-namorado divulgou as imagens para um amigo, se passando por ela. "Desde então até hoje as atitudes doentias dele vêm surpreendendo a todos", disse. Na época, ele também descobriu o número de celular novo de Beatriz e passou a mandar mensagens.
"Ele já se matriculou na mesma faculdade que eu fazia e viajou até a cidade aonde eu estudava. Depois me mandou um e-mail dizendo o quanto era fácil estar perto de mim se ele quisesse. Meus amigos sabiam de tudo e sabiam do meu medo. Ele criou 'fakes' de pessoas da minha sala, de professores da universidade, de estabelecimentos que eu frequentava, de pessoas da minha família. Era tudo para conseguir me vigiar, se passar por mim e ter informações minhas", afirmou.
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MAIS AMEAÇAS
Beatriz conta também que quando ela estagiou na Unicamp, em Campinas, o ex-namorado continuou a ameaçá-la e também ameaçou de morte o novo namorado dela caso o casal não se separasse. "Enquanto eu estava namorando, ele pedia para pessoas me ligarem inventando histórias. Já inventou que meu padrasto e meu tio abusavam de mim e que era consentido".
Para o advogado de Beatriz, Paulo Sarmento, o crime mais grave cometido por Felipe está relacionado à divulgação de imagens da vítima quando ela era menor de idade. "Ele coloca imagens de nudez de quando ela era adolescente. Poderia se enquadrar, após a maioridade dela, no crime de propagação de imagens de nudez sem autorização da pessoa por qualquer tipo de meio. Aí seria o crime Carolina Dieckman", explicou.
Entre os documentos anexados como prova do caso de Beatriz estão mensagens onde o homem reconhece que fez as publicações das imagens da jovem. "Existe uma mensagem onde ele afirma que realmente se sente muito mal com o que fez. E afirma que não fará mais isso. Mas o fato é mentiroso, porque ele continua fazendo", disse o advogado. Em uma das mensagens enviadas a um amigo da vítima, Felipe escreveu: "não vou mais fazer mal pra ela, não vou mais mandar foto para outras pessoas". No entanto, isso não ocorreu.
STALKING
O inquérito de Beatriz foi instaurado antes da lei de stalking, sancionada no dia 5 de abril deste ano no Brasil. A lei tipifica o crime de perseguição e prevê pena de reclusão de seis meses a dois anos e multa para esse tipo de conduta. No caso de Americana, o inquérito segue sendo investigado e o ex-namorado está foragido. "A única pessoa que falta ser ouvida é ele", disse Sarmento.
DANO PSICOLÓGICO
A promotora Valéria Diez Scarance Fernandes afirmou que o crime de divulgação de imagens íntimas é severo para o psicológico da vítima. "É muito grave. É como se fosse uma morte em vida daquela mulher. Quase que a totalidade das vítimas abandona escola, trabalho, ou quando retoma logo desiste. Muitas têm que mudar de cidade, de país, por medo. Além disso, 50% dessas mulheres e meninas vivem um peso de pensamentos suicidas", disse.
(Com informações da EPTV Campinas)