A demora da vacinação contra a covid-19 no Brasil e a preocupação com as novas variantes fizeram surgir o "turismo da vacina", procurado por moradores de Campinas nos últimos meses. Apesar da demanda, as agências têm tido dificuldade em fechar o negócio pois o custo da viagem é considerado alto, e sem a garantia da imunização.
Além disso, o governador João Dória (PSDB) anunciou vacinação para toda a população adulta até setembro - o que trouxe a expectativa de melhora da pandemia até lá. Apesar do anúncio, existe ainda a preocupação em se vacinar o quanto antes.
No exterior, a situação é diferente do Brasil. Nos Estados Unidos, por exemplo, a vacinação está sob responsabilidade de cada estado, sendo que em Nova York o prefeito criou centros de vacinação móvel em pontos turísticos, como Central Park, Times Square e Brooklyn Bridge. Por lá, a vacinação já se estende aos adolescentes.
OMS
Apesar da movimentação do "turismo de vacina", a tendência de viagem por vacina não é bem-vista por autoridades da saúde, como a OMS (Organização Mundial da Saúde), que pede para que as doses excedentes da vacina contra covid-19 sejam doadas ao Covax Facility.
A iniciativa quer redistribuir vacinas às nações mais pobres. Outras autoridades apontam que a tendência acentua a desigualdade social, já que é uma opção viável apenas para a classe média e rica.
De fato, são poucos os brasileiros que conseguem arcar com esse tipo de turismo. Em Campinas, por exemplo, há procura, mas o culto alto tem impedido a concretização da viagem. Há ainda o receio por parte dos passageiros de serem contaminados pela doença antes de terem acesso ao imunizante.
TURISMO CARO
Luciane Oliveira é proprietária da agência Viaje Com Classe, em Campinas, e, de acordo com ela, a procura pelo "turismo da vacina" não foi maior por conta do alto custo agregado. "Realmente o mercado está tendo procura, porém a minha agência teve apenas um cliente que pediu informação. É um turismo caro, que só beneficia a classe rica".
Patrícia Stancatti, da agência Stancatti Viagens, em Campinas, explica que os preços também estão relacionados às paradas obrigatórias para o cumprimento da quarentena. "Até temos algumas pesquisas sobre viagem para o 'turismo da vacina', mas por conta dos valores que envolvem, e por precisar fazer quarentena antes de chegar nos EUA, as pessoas acabam se assustando e desistem".
De acordo com Patrícia, dependendo do padrão de hotéis que o cliente escolha, a viagem não sai por menos de R$ 12 mil por pessoa. Mas o valor pode ser ainda maior caso o turista receba o imunizante que requer duas doses.
"A da Pfizer obriga o turista a ficar pelo menos 21 dias nos EUA, o que aumenta consideravelmente o valor da viagem".
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Além da hospedagem e passagem, o turista ainda deve se organizar financeiramente para gastos com alimentação, transporte, passeios e seguro-viagem. "O seguro é importantíssimo em tempos de covid-19", destacou Patrícia.
Silvia Maria Peres Fernandes, funcionária da agência SMTUR, também em Campinas, conta que registrou bastante procura dos clientes, mas nenhum fechou o pacote. Ainda segundo ela, duas famílias viajaram para o EUA, mas sem interesse na vacina. "São famílias que têm conhecidos nesses lugares e que não precisam arcar com os gastos do hotel", disse.
Outro fato que colabora para que os clientes recuem, segundo Sílvia, é o medo de contaminação com o vírus antes de ter acesso as vacinas - por exemplo, na viagem de avião até o local desejado.
SEM CERTEZA DA VACINA
Mesmo com o turismo em países como Estados Unidos sendo incentivado, Luciane ressalta que as viagens para esses destinos não garantem a aplicação do imunizante, já que não existe lei que regulamente o "turismo da vacina".
"Sabemos que os EUA liberaram a vacina para qualquer pessoa, porém nós não podemos garantir nada. O que fazemos é reservar os hotéis, tanto no México ou Punta Cana onde estão fazendo a quarentena de 15 dias antes de entrar no EUA. Se conseguir tomar a vacina dose única fica 5 dias e já volta, do contrário tem que ficar mais tempo para tomar a segunda dose".
A empresária Patrícia também destaca que a vacina não é garantida, mas que, caso a resposta aos turistas seja positiva, há a possibilidade de escolha de qual imunizante tomar.
"Não dá para ter certeza, mas a maioria tem conseguido. Dá pra agendar o local e horário da vacinação e em alguns lugares dá até pra escolher a vacina. A vacina da Johnson tem sido a preferida por ser somente 1 dose".
EXIGÊNCIAS
Além da organização financeira, o viajante também deve estar atento as exigências do país de destino. Em tempos de pandemia, o teste contra a covid-19 é obrigatório para entrar em determinados territórios.
"México o passageiro precisa ter apenas o passaporte com validade mínima de 6 meses. Se ele voa pela cia aérea copa Airlines, recomendamos a vacina da febre amarela. O Estados Unidos cobra o visto americano e teste PCR negativo. México não exige teste para entrada", explicou Luciane.
Se o passageiro resolver fazer a quarentena em Punta Cana, é necessário o teste PCR negativo para entrar. "Lembrando que todos as pessoas brasileiras ou estrangeiras precisam apresentar o teste PCR negativo para entrar/voltar para o Brasil. Os testes preciso ser feitos com 48 horas de antecedência do voo", acrescentou Luciane.