Nos quadrinhos, os super-heróis usam capa e lutam contra o inimigo em batalhas infindáveis. Já na vida real, os heróis do pequeno Vitor Leonardo, de apenas um aninho, usam avental e combatem o mal entre as paredes de um hospital. Ele veio ao mundo em meio à pandemia de Covid-19, em Campinas, enquanto a mãe seguia intubada, lutando para sobreviver.
Aos sete meses de gestação, Flaviana Maria De Jesus Favaro, de 38 anos, se contaminou com o novo coronavírus, e apresentou problemas para respirar. Já intubada, ela foi submetida a uma cesárea de urgência. O rosto do pequeno Vitor ela só conheceu 13 dias após o nascimento.
"Não conheci meu filho quando ele nasceu. Não sei como que foi o acontecimento e nem sabia se eu conseguiria vê-lo um dia. A última lembrança que eu tenho é do doutor colocando a máscara no meu nariz, e apaguei, vindo a acordar depois de 13 dias. Venci 13 dias em coma e outros nove de recuperação com fisioterapia, e pude ter o meu menino nos meus braços".
Para Flaviana, as mais de duas semanas inconsciente foram como um dia. "Quando acordei eu não imaginava que tivesse passado tanto tempo. Hoje, dia 29 de junho, faz um ano que eu acordei", comenta.
O médico André Arruda, coordenador de ginecologia e obstetrícia do Hospital Vera Cruz, e que realizou o parto de Flaviana, explica que casos de cesáreas em gestante com covid tendem a ser mais complicados do que os normais. "Em pacientes com o novo coronavírus existem maiores riscos de trombose venosa e trombose pulmonar, infecção devido a imunossupressão, doença hipertensiva específica da gravidez, atonia uterina, além da prematuridade para o feto", disse.
Diante das possíveis complicações, André explica que a cirurgia foi realizada com todos os aparatos de proteção, mas que acabaram dificultando a técnica cirúrgica. "Parecíamos astronautas, óculos, duas máscaras, face shields e duas luvas. Por fim, tudo terminou bem", lembra o médico.
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HERÓIS E FAMÍLIA
No último dia 16 de junho Vitor completou o primeiro aninho de vida, e Flaviana decidiu comemorar o aniversário do filho em uma festa restrita, com a presença de alguns familiares e seguindo os protocolos de combate à covid.
Com o tema "Meus Heróis da Vida Real", a família quis agradecer à equipe da unidade responsável pela internação dela e do bebê, entre médicos, enfermeiros, limpeza e administrativo do Hospital Vera Cruz.
"Na vida a gente tem Deus como maior herói, mas eu e o Vitor também temos outros super-heróis da vida real, que são os médicos e enfermeiros que nos atenderam no hospital. Não recebemos só medicação, como também atenção, cuidado e carinho. Isso tudo me deixou ainda mais grata, e quis reconhecer o que eles fizeram por mim e por meu filho", contou.
Durante o período em que o filho esteve no hospital, Flaviana relembra que os médicos e enfermeiros atuaram como uma verdadeira família. "Vitor Leonardo também precisou respirar com a ajuda de aparelhos e, prematuro, não pôde contar com os meus familiares, pois estavam todos com coronavírus. A equipe multidisciplinar do hospital foi sua família durante esse período e fundamental para a recuperação dele", contou.
UM ANO DE SAÚDE E ALEGRIA
E mesmo nascendo antes do tempo e em meio a uma pandemia que já vitimou milhares de pessoas, o pequeno Vitor tem se desenvolvido com saúde para dar e vender. "A gente fez acompanhamento desde que nasceu, e ele teve o desenvolvimento igual a de uma criança nascida de nove meses. A médica disse que ele não precisa tomar hormônio e de nada. Está muito bem, um serelepe pela casa, engatinha muito rápido e fica em pé, segura e arrasta a cadeira. Logo, logo ele estará andando".
Um ano depois, o sentimento de gratidão ainda transborda no peito de Flaviana. "As orações foram atendidas e nós dois estamos aqui com saúde. Sensação maravilhosa de felicidade e gratidão", finalizou.