Profissionais de saúde em atendimento no Caism a mulheres que participaram do estudo deixaram de desenvolver o câncer.
Antonio Scarpinetti
Profissionais de saúde em atendimento no Caism a mulheres que participaram do estudo deixaram de desenvolver o câncer.


Um estudo clínico realizado por pesquisadores da FCM (Faculdade de Ciências Médicas) da Unicamp indicou que um novo método de detecção de câncer de colo é mais eficiente do que o método convencional existente. 

Os resultados revelam que o rastreamento por teste de HPV baseado em DNA antecipa em 10 anos a detecção da doença nas mulheres.

Segundo os pesquisadores, a substituição do antigo teste de citologia convencional, conhecido como exame de "Papanicolau", pelo novo metódo, pode servir como base para o desenvolvimento de políticas públicas mais eficientes e mais baratas.

A grande diferença desse teste é que ele detecta, de forma automatizada, as cepas do vírus que causam o câncer, sem espaço para dúvidas na interpretação dos resultados. 

Comparado ao método antigo, o desempenho convencional é mediano e pode deixar escapar casos de lesões precursoras e até o câncer já estabelecido.

O estudo contou com a participação da Prefeitura de Indaiatuba, da divisão Roche Diagnóstica e do Caism (Centro de Atenção Integral à Saúde da Mulher), da Unicamp.

ANTECIPAÇÃO

A proposta do "Programa de Rastreamento do Câncer de Colo de Útero com teste de DNA-HPV" foi realizada entre outubro de 2017 e março de 2020, com cobertura de 80% da população-alvo projetada.

Ao todo, foram 30 meses testando o programa de rastreamento em situação real.

Isso foi possível devido à participação do município de Indaiatuba, que viabilizou a participação das mulheres no programa, com idades entre 25 e 64 anos, pela busca ativa e com a estrutura para a realização dos testes e acompanhamento.

Nos resultados, a conformidade dos testes de HPV realizados com a idade foi de 99,25% , em comparação com 78% obtida no programa com citologia. 

Com isso, a detecção do câncer nas mulheres que fizeram o teste de DNA-HPV foi antecipada em 10 anos, comparando-se com o método tradicional.

Segundo os pesquisadores, isso também explica o maior índice de casos detectados em estágio inicial. (veja mais abaixo)

TRATAMENTO 

Além disso, muitas das mulheres que participaram do estudo simplesmente deixaram de desenvolver o câncer.

Quando o teste dava positivo para HPV16 ou HPV18, que são responsáveis por 70% dos casos de câncer de colo de útero, a mulher era encaminhada para um outro exame: a colposcopia.

Nesse exame, era possível realizar um tratamento curativo e preventivo da lesão inicial, pré-câncer. 

Aquelas que não tinham lesão pré-cancerosa faziam o acompanhamento com um intervalo menor para detectá-las no início, caso surgissem.

EFICIÊNCIA

No âmbito do programa, 86,8% de testes tiveram resultado negativo e 6,3% tiveram indicação do procedimento médico de colposcopia.

Cerca de 78% das colposcopia foram realizadas, detectando 21 mulheres com câncer de colo de útero, com idade média de 39,6 anos. Dessas, 67% dos casos estavam em estágio inicial. 

Quando comparado esses resultados com o antigo método de citologia, nos 30 meses prévios, foram detectados apenas 12 casos de câncer, com idade média bem superior (de 49,3 anos). Além de apenas um caso em estágio inicial. A comparação é referente entre outubro de 2014 e março de 2017.

Outra vantagem do método é que, de acordo com as diretrizes internacionais, caso o teste seja negativo para todos os tipos de HPV, a mulher só precisará repeti-lo após cinco anos. 

Diferentemente do teste tradicional que precisa ser repetido a cada três anos após dois resultados normais consecutivos. 



PIONEIRISMO

A pesquisa se destaca também pelo o pioneirismo de envolver toda a população feminina de uma cidade, sem seleção e por meio do SUS, gerando dados comparativos da vida real. Ela também foi publicada na revista científica mundial sobre medicina, "The Lancet", do Reino Unido.

"É muito diferente do que a ciência já tinha realizado, em ambientes de estudo mais controlados ou em experiências. Com esses resultados, mostramos que, com estratégias e ferramentas diagnósticas corretas, é possível salvar milhares de vidas no Brasil e no mundo e, de fato, erradicar o câncer de colo de útero" , afirmou um dos pesquisadores do estudo, Dr. Júlio Cesar Teixeira, que é diretor da Oncologia do Caism, da Unicamp.

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