Vacinação de crianças gera dúvidas com a aproximação da volta às aulas.
Divulgação/Prefeitura de Campinas
Vacinação de crianças gera dúvidas com a aproximação da volta às aulas.


Com a proximidade do início da vacinação infantil contra a covid-19, em crianças de 5 a 11 anos, muitas dúvidas podem surgir em relação à volta as aulas - prevista para o dia 2 de fevereiro.

Entre elas, a principal é em relação a segurança das crianças neste novo cenário pandêmico. Será preciso esperar que a criança esteja vacinada para mandá-la à escola?

Para a infectologista da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) e consultora da Sociedade Brasileira de Infectologia, Raquel Stucchi, é preciso avaliar esta decisão pelo atual cenário epidemiológico.

Com o aumento dos casos da variante ômicron no mundo, o ideal seria aplicar a 1ª dose nessa faixa etária, antes do retorno escolar presencial, e esperar ao menos quatro semanas para um retorno mais seguro (veja mais abaixo).

Vale lembrar que, na última quarta-feira (5), o Ministério da Saúde autorizou a aplicação da vacina contra a covid-19 na faixa etária de 5 a 11 anos sem a exigência de prescrição médica.  

Nesta quinta-feira (13) chegou o 1º lote com vacinas pediátricas contra a covid-19, através do Aeroporto Internacional de Viracopos.  No mesmo dia, a Prefeitura de Campinas disse que  avalia a suspensão de volta presencial às escolas.

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VALE ESPERAR A VACINAÇÃO?

Com a perspectiva do início da vacinação infantil muito próxima, a infectologista da Unicamp avalia que vale a pena esperar pelo menos mais quatro semanas para um retorno mais seguro.

O processo de imunização infantil deve começar ainda em janeiro com a aplicação da vacina da Pfizer, a única aprovada pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) para as crianças entre 5 e 11 anos. As regras já foram divulgadas pelo governo e o intervalo da aplicação das duas doses pediátricas será de 8 semanas. 

Na região, o governo do Estado de São Paulo já informou que terá condições de vacinar cerca 250 mil crianças por dia, de um público total de quase 4,3 milhões.

"Com a atual liberação da Pfizer e a expectativa da Coronavac, o ideal é que o retorno presencial seja postergado até que as crianças tenham pelo menos a primeira dose, mas que mantenha a atividade virtual no início do ano letivo", defendeu. "Pois neste momento, com a ômicron cada vez mais preocupante, seria importante para garantir uma maior segurança", disse.

IMPORTÂNCIA DA VACINAÇÃO INFANTIL

Ao avaliar a atual situação pandêmica no Brasil, a infectologista Raquel Stucchi analisa que há diversos fatores que justificam uma maior importância na vacinação infantil neste momento. Entre eles, o aumento de casos graves da covid-19 nesse público, o descontrole da pandemia mundial com as novas variantes e os efeitos do pós-covid.

"Com o retorno das atividades regulares dos adultos, as crianças passam a ser um grupo importante de adoecimento grave para covid, mesmo as de 5 a 11 anos, que também desenvolvem consequências secundárias a infecção" , afirmou Raquel.

Ela reforça o olhar para o aumento de casos da variante ômicron em todos os países, que vem mostrando um número crescente na taxa de ocupação de leitos de enfermaria e UTI pediátrica.

"No início da pandemia, com as medidas restritivas mais severas, as crianças que adoeciam eram poucas" relembrou. "Mas agora sabemos que as crianças estão tendo casos graves e com outras consequências desenvolvidas pós-covid, inclusive para casos leves," disse.

É SEGURO ENVIAR AS CRIANÇAS PARA ESCOLA?

Apesar de defender, neste momento, a vacinação infantil antes do retorno escolar, a infectologista reconhece a importância da abertura das escolas para as crianças, mas pede cautela.

"Quando olhamos para o fator social e educacional da escola, realmente as crianças já foram muito prejudicadas, mas devido a todos esses fatores epidemiológicos, a situação é um pouco mais delicada agora", explicou.

"Vimos que na África do Sul o pico da ômicron é de mais ou menos 4 semanas, talvez até o final de janeiro possa haver uma redução expressiva dos casos que podem ajudar no retorno presencial", informou.

INTERVALO DE DOSES

Para a consultora da SBI, a esperança é que os estados possam fazer um calendário com intervalo de 21 um dias entre as doses, para assim garantir uma maior segurança tanto para as crianças, quanto para os profissionais de educação e pais/responsáveis.



Mas segundo as regras divulgadas pelo Ministério da Saúde, e aprovadas pela Anvisa, o intervalo da aplicação das duas doses pediátricas será de oito semanas.

"É preciso entender que a adoção desses intervalos dependem muito do momento epidemiológico," explicou Raquel.  "Com essa explosão de casos da Ômicron, este não é um momento favorável, a pandemia não está sobre controle e, por isso, deveríamos respeitar o intervalo de 3 semanas da bula" afirmou.

Essa relação de intervalo entre as doses é justificada em adultos, de acordo com a infectologista, pois há realmente uma tendência de proteção mais rigorosa e prolongada.

"Esse intervalo seria justificado agora caso tivéssemos iniciado a vacinação infantil lá em novembro. O momento é outro e temos pressas para vacinar as crianças." finalizou. 

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