Ala de sequelas da covid já atendeu mais de 120 pacientes em Campinas
Reprodução: ACidade ON
Ala de sequelas da covid já atendeu mais de 120 pacientes em Campinas



Inaugurado em outubro do ano passado, o ambulatório que atende pacientes com sequelas da covid-19, em Campinas, já atendeu mais de 120 pessoas e passou de 2,4 mil sessões de reabilitação. O tratamento é feito no Hospital Ouro Verde, no mesmo espaço onde funcionava a ala de enfermaria covid-19.

A sala, agora com exercitadores e equipamentos para fisioterapia, dá um novo significado para o mesmo ambiente que no momento mais crítico da pandemia contava com 48 leitos, lado a lado, ocupados por pacientes que lutavam pela vida. 

Alguns dos pacientes que passaram por lá, agora retornam ao espaço para reabilitarem funções físicas perdida para a doença. 

REAPRENDENDO A DAR PASSOS

A busca para retomar sua vida anterior a doença é o que move Maurício Jacinto do Prado, de 61 anos, paciente do ambulatório há cerca de três meses. 

Maurício teve covid-19 no início de 2021, ficou 70 dias internado, destes, 21 dias intubado. Mesmo com a recuperação, a doença trouxe grandes sequelas a ele, com perda total dos movimentos dos braços e das pernas.

"Eu era um cara dinâmico, fazia minha comida, cuidava dos meus filhos, da minha família, e de repente eu perdi o norte. Fiquei na cama, dependendo dos outros. O mais difícil é isso, saber que tem condição de fazer, mas foi tirado isso de você", desabafou. 

Além dos movimentos, Maurício conta que após a doença os sintomas de falta de ar e cansaço também foram frequentes, e se somaram ao psicológico abalado após presenciar perdas de colegas que estavam na mesma situação. 

"Eu fiquei muitos dias no CTI, fiz amizades com muitas pessoas que vieram a óbito. Muitos mais novos do que eu, e isso mexe com a gente. Mas desde que eu vim para cá, vejo uma grande evolução. A vinda foi de grande importância, é um novo ânimo, uma palavra amiga. Aqui me deram um norte, me colocaram de novo à vida", disse. 

Desde a alta, Maurício faz sessões de fisioterapia, já retomou os movimentos dos braços e aos poucos retoma os movimentos das pernas.  


RECUPERAÇÃO

Segundo o levantamento da coordenadoria do ambulatório, a maioria dos casos atendidos evoluiu com grau satisfatório de melhora clínica e psicológica, mostrando resultado das terapias propostas pelos profissionais. 

"80% dos atendidos tiveram muita melhora clínica, apresentaram reabilitação motora, física. A maior parte dos pacientes chega com dispneia, desconforto respiratório, cansaço. Não conseguem fazer atividades simples, até deslocamento fica difícil", explicou a coordenadora de fisioterapia e terapia ocupacional do ambulatório, Alexandra Cristina Cruz Carlini. 

QUEIXAS

As queixas atendidas no ambulatório são de pacientes que se contaminaram com a covid-19 e permaneceram com sequelas após a recuperação. 

Entre as principais reclamações estão: 

- Cansaço
- Dispneia (dificuldade de respirar) para realizar atividades simples
- Fraqueza muscular
- Fadiga
- Perda de peso acentuada
- Alterações vocais
- Alteração de e olfato e paladar
- Alterações psíquicas, como perda de autonomia, angústia e traços depressivos
- Tosse 

A coordenadora explica que em cada paciente é avaliado o quadro médico inteiro, e montado um programa de reabilitação. 

"O paciente chega com os sintomas e avaliamos tudo. Fazemos plano de terapia, que varia entre 10 e 20 sessões. Decidimos se vamos encaminhar para outras especialidades, como psicologia, nutrição, fonoaudiologia, ou até mesmo uma especialidade, como cardiologia, pneumologia. Vemos o paciente como um todo, e definimos esse projeto de recuperação. Ele pode ser atendido de uma a duas vezes na semana", explicou.

COMO FUNCIONA

O ambulatório dispõe de atendimento em fisioterapia, fonoaudiologia, terapia ocupacional, psicologia e nutrição.
Os pacientes são encaminhados via Cross (Central de Regulação de Ofertas e Serviços de Saúde). Hoje são atendidos no ambulatório cerca de 20 pacientes com acompanhamento de consultas semanais. 

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"O fluxo é constante, vem pacientes com sequelas, encaminhados pelos Centros de Saúde, que encaminham o paciente via Cross. Esse paciente é encaminhado para nós via e-mail, e entramos em contato para agendar a primeira consulta", explicou. 

A coordenadora disse que caso uma pessoa apresente sequelas e deseje fazer o tratamento, pode, portanto, procurar um Centro de Saúde mostrando interesse pelo ambulatório. 

"Às vezes é uma queixa leve que em 10 sessões conseguimos reabilitar", afirmou Alexandra.  

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Na foto a psicóloga Daniela da Silva, a fonoaudióloga Natália de Oliveira, a nutricionista Bruna Valdevino Barbosa e a coordenadora de fisioterapia e terapia ocupacional, Alexandra Cruz Carlini (Foto: Denny Cesare/Código 19)

O PERFIL E QUEM PODE SER ATENDIDO

A maior parte dos pacientes atendidos no ambulatório são aqueles que passaram por processos de internação após contaminação por covid-19. 

"O paciente que vem definido para reabilitação intensa normalmente é um paciente que permaneceu mais tempo internado, com perda de massa muscular, fadiga intensa. Chega com diversos problemas falando de cansaço, indisposição, muitos as vezes cadeirante", citou a coordenadora. 

Apesar da maioria ser de pacientes que tiveram quadros mais graves, Alexandra afirma que também há atendimento de pessoas que tiveram quadros mais leves da doença. 

"Nesses casos são pacientes que se queixam mais de dispneia, cansaço, e para esses, a recuperação é mais rápida, diferente dos que ficaram mais tempo internados. Fazemos programa para intensificar o ganho da função o mais rápido possível", explicou. 

TRATAMENTO

Para as diversas queixas que chegam no ambulatório, a equipe trabalha em conjunto para reverter o quadro e tentar devolver ao paciente bem-estar e autonomia.

Saúde mental

A psicóloga Daniela Monique da Silva, conta que sequelas e transtornos psicológicos também têm sido vistos na maioria dos pacientes. 

"Os médicos já percebem alguns sinais característicos e encaminham para psicologia. O primeiro sintoma que é muito característico é a insegurança e a ansiedade. Os pacientes normalmente chegam muito fragilizados, passam a ter sentimento de medo que antes não tinham", explicou. 

Segundo Daniele, também é muito comum quando o próprio paciente perdeu familiares e tem que lidar com nova constituição familiar. O atendimento psicológico é feito semanalmente, com duração entre 50 minutos e uma hora. São autorizadas de 10 a 20 sessões. 

Olfato e paladar

Um dos principais sintomas da covid-19 e que muitas vezes também afeta pessoas que tiveram casos mais leves, são as alterações no paladar e no olfato. 

"A fonoaudiologia também trabalha com isso. Muitos pacientes se queixam disso, e o tempo de permanência com essa alteração varia muito. Tem paciente que após o contágio já volta, e outros permanecem por vários meses. Na reabilitação nós temos exercícios específicos para o estímulo do paladar e olfato, trabalhando a parte sensitiva. A terapia também é de 10 a 20 sessões, tivemos que limitar pelo número da procura", explicou a coordenadora da fonoaudiologia, Natália Cristina Oliveira. 

Já a nutricionista Bruna Valdevino Barbosa dá recomendações usadas para o tratamento das alterações. 

"Na alimentação, o que dá pra fazer para fazer tentar voltar ao paladar de uma forma mais rápida é consumir mais ervas, preparar e temperar alimentos com ervas, além de alho, cebola, também consumir mais frutas cítricas, acerola, limão, abacaxi, e outra opção é colocar erva em líquidos, fazer água aromatizada, com hortelã, gengibre, e recomendamos mastigar gengibre durante o dia que pode ajudar também.
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