Os tremores sentidos por moradores de Campinas e cidades da região após um terremoto de grande magnitude na Argentina são considerados reflexos comuns da placa tectônica, de acordo com o geólogo Álvaro Crósta, professor da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas).
O terremoto ocorreu na noite de ontem (10) e órgãos oficiais de Campinas, Indaiatuba e Itatiba confirmaram registros de chamados para tremores, que assustaram principalmente moradores de prédios.
"Os terremotos chegam aqui como um reflexo desses tremores mais fortes na Cordilheira dos Andes. Eles se propagam pelas rochas que são sólidas do subsolo, então o que a gente vê aqui são reflexos, normalmente bem mais atenuados, desses terremotos maiores", explicou o especialista da Unicamp.
Segundo o professor, geralmente moradores de andares mais altos de prédios têm a percepção maior dos tremores.
"Estamos dentro da mesma placa, então ele (o terremoto) se transmite pelas rochas do interior da placa e isso é comum. As pessoas que sentem normalmente estão em lugares altos de edifícios. Os edifícios funcionam como pêndulos. As bases são fixas, mas balançam nos pontos mais altos. Eles são construídos para resistir a essas oscilações, é normal que as pessoas que estão mais em cima sintam pequenos tremores", disse.
"ZONAS DE FRAQUEZA"
O geólogo explicou ainda que os locais em que os tremores são sentidos, provavelmente são pertos das chamadas "zonas de fraquezas" do subsolo.
"As rochas mais profundas, que a gente não vê, tem zonas de fraquezas, são falhas ou fraturas, e essas zonas, ao longo delas, os sismos se propagam com maior facilidade. É muito provável que essas zonas que sentem mais estejam próximas ou em cima dessas zonas de fraqueza", acrescentou.
REGISTROS
Em Campinas, a Defesa Civil de Campinas
informou que foi acionada e fez uma vistoria
na noite de ontem em um prédio, no bairro São Bernardo, após moradores relatarem terem sentido um tremor no edifício. O chamado ocorreu por volta das 20h50, mesmo horário do registro de um terremoto que atingiu o Norte da Argentina.
"Fomos chamados à noite, no mesmo horário do terremoto, após moradores de um prédio relatarem que sentiram sensação de tremor na edificação. Fomos ao local e fizemos vistoria na parte estrutural, hidráulica, e não encontramos nenhum dano estrutural", afirmou o diretor da Defesa Civil, Sidnei Furtado. Segundo ele, um engenheiro vai fazer uma nova vistoria no prédio hoje.
Em Indaiatuba, a Defesa Civil confirmou que foi chamada para atender ocorrências num prédio no Jardim Alice, na zona Sul e em outro na Rua Tuiuti, zona norte.
"Não houve danos e o atendimento se limitou a acalmar os moradores. Segundo o setor, esses pontos da cidade receberam ondas de choque acusadas pelo terremoto registrado na Argentina", informou o órgão.
Em Itatiba, o prefeito da cidade, Thomás Capeletto, escreveu nas redes sociais que alguns prédios chegaram a ser evacuados pelos moradores. O Corpo de Bombeiros foi acionado e foi liberado o retorno aos imóveis, quando foi constatado que não havia risco.
SUSTO GRANDE
"Teve pessoas que sentiram bastante e outras que não sentiram nada. Acho que vai muito de percepção e sensibilidade. Vamos fazer levantamento, a princípio o que tivemos foram alguns lustres quebrados", disse um moradora.
"Foi um susto, nós nunca ouvimos falar de tremor aqui. À noite, as portas das escadas começaram a bater muito forte, até achamos que estavam mexendo com reforma, ficamos um pouco assustados", contou o professor Nonato Fonseca.
Segundo os moradores, os tremores aconteceram por volta de 20h30 e duraram cerca de 10 segundos.
"Eu estava sentada normal e de repente o sofá tremeu. Eu pensei: 'ou o pé do sofá está frouxo ou eu estou com sintoma de labirintite'. Nem passou pela minha cabeça que poderia ser isso", disse a aposentada Margareth Romeiro.
O TERREMOTO
O terremoto, de forte intensidade e magnitude 6,8 foi registrado a uma profundidade de 176 quilômetros na região de Jujuy, por volta das 20h, em área próxima à fronteira com o Chile e a Bolívia.
Segundo o Serviço Geológico dos Estados Unidos (USGS), o tremor pôde ser sentido em Antofagasta (Chile), Valparaíso (Chile), e no Brasil.
De acordo com o Centro de Sismologia da USP (Universidade de São Paulo), foram dezenas de relatos de pessoas que sentiram um tremor por volta das 20h15 em cidades do interior e na capital de São Paulo.