Queimadas tiveram forte influência na piora da qualidade do ar em Campinas.
Divulgação/Unicamp
Queimadas tiveram forte influência na piora da qualidade do ar em Campinas.


Diferente do que aconteceu em boa parte do mundo, a qualidade do ar da região de Campinas piorou desde o início da pandemia de Covid-19. De acordo com estudo do Centro de Pesquisas Meteorológicas Climáticas Aplicadas à Agricultara (Cepagri) da Unicamp, foi registrado um aumento da concentração de poluentes, após verificações feitas em Americana, Campinas, Limeira, Paulínia e Piracicaba.

Um dos fatores que contribuiu para este cenário foi o tempo seco, uma vez que o período de outono e o inverno deste ano foram os mais secos desde que o Cepagri iniciou as medições, em 1990. Não à toa, Campinas completou nesta sexta-feira (14), um mês sem chuvas, em meio à maior seco dos últimos 31 anos.

A piora na qualidade do ar foi ainda maior em razão de um aumento expressivo no número de queimadas. O Cepagri constatou, com base em dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), 147 focos de queimadas em Campinas, entre 24 de março e 31 de julho.

“Foi um período que teve uma estiagem muito forte, especialmente do mês de abril, o que contribui para a concentração dos poluentes porque um dos mecanismos de diminuição da poluição atmosférica é a chuva, através do que a gente chama de deposição úmida”, explica Bruno Bainy, meteorologista do Cepagri.

“Mas isso era insuficiente para explicar o aumento na poluição e resolvemos observar sob a ótica das queimadas. Vimos que de fato houve um número muito grande de queimadas, maior que o dos últimos anos”, completa.

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Taxa alta

A concentração de poluentes na região de Campinas foi tão intensa que chegou a ultrapassar valores limites estabelecidos pela Organização Mundial de Saúde (OMS), como conta Bainy.

"Um exemplo marcante de quando a poluição superou esses limiares da OMS foi no dia 1º de maio, quando o material particulado inalável fino atingiu uma concentração média de 37 microgramas por metro cúbico- 50% acima do limite”, lembra.

Risco

Campinas entrou na fase amarela do Plano São Paulo no último sábado (7), o que permitiu a retomada das atividade presenciais em restaurantes, bares, academias e salões de beleza. A situação preocupa Bruno Bainy, pois a reabertura pode causar um aumento na circulação de veículos, o que acarretaria em mais emissões de poluentes.

A situação pode, também, agravar os quadros de doenças respiratórias, como a Covid-19. Existem, segundo Bainy, estudos que relacionam a gravidade e a mortalidade da Covid-19 à condição do ar, em países como China, Índia, Itália

“Há a questão ambiental, mas também a questão da saúde. É ainda mais preocupante aplicado ao contexto da pandemia de uma doença que em alguns casos causa a Síndrome Respiratória Aguda Grave, pneumonias e deficiência nos pulmões”, alerta o pesquisador.

Conscientização

A pesquisadora do Cepagri, Ana Maria Heuminski de Ávila, que também conduziu o estudo, indica que, para mudar essa situação, é preciso mudar a cultura da limpeza de terrenos com fogo, assim como o hábito da queima de lixo.

“Há um agravamento da qualidade do ar e da saúde pela questão cultural de colocar fogo para limpeza de terreno. É uma forma barata e simples, mas que tem todo um impacto na saúde e que as pessoas, por desconhecimento muitas vezes, acabam mantendo”.

Além dos pesquisadores do Cepagri Bruno Bainy e Ana Ávila, também participou do estudo a professora da Faculdade de Ciências Médicas da Unicamp Ilma Aparecida Paschoal.

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