A RMC (Região Metropolitana de Campinas) teve ao menos 4,4 mil empresas encerradas neste ano. Segundo dados da Jucesp (Junta Comercial do Estado de São Paulo), de janeiro a julho de 2020, foram 4.405 empresários que cancelaram o CNPJ (Cadastro Nacional de Pessoa Jurídica), sendo que o último mês teve o maior número de cancelamentos. Em julho, o número chegou a 824, o maior do ano. Em seguida, aparece junho, com 765 encerramentos de cadastros.
Os impactos econômicos do novo coronavírus com a obrigatoriedade do fechamento das empresas como medida de combate a disseminação da doença foi um dos principais aceleradores para esse número de suspensão de CNPJ. Com tanto tempo de empresas fechadas, sem poder atender clientes fisicamente, muitas resolveram suspender a operação. Na região de Campinas o comércio e o setor de serviços ficaram fechados por cerca de três meses direto, depois chegou a reabrir em junho para, após duas semanas, fechar novamente. A retomada atual aconteceu no mês de julho. Hoje o comércio e alguns setores de serviço podem funcionar durante oito horas.
Só em Campinas um levantamento feito pela Comissão de Shoppings Center da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) apontou que 103 lojas fecharam as portas em shoppings da cidade durante o período do fechamento imposto pelas autoridades do Estado. A falta de capital de giro e recursos financeiros no período de fechamento de praticamente quatro meses - para pagar contas e salários foram determinantes para o encerramento das operações.
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MAPA DO FECHAMENTO
Entre as cidades com maiores números de suspensões, está Campinas que lidera com folga: 1.751 empresas fechadas até julho. Americana fica com a segunda posição, com 419 encerramentos, e Indaiatuba em terceiro, com 384 CNPJs cancelados.
"Não tem o que fazer, por mais que o empresário faça os acordos de redução de jornada e salário ou suspensão de trabalho chega uma hora que não tem de onde tirar para honrar com as contas. Como faz para pagar funcionário e as contas sem conseguir vender? Quem sofreu foi o pequeno principalmente. Muitas empresas não conseguiram crédito, e a maior parte foram as pequenas", afirmou a presidente do SindiVarejista de Campinas e Região - entidade dos empresários do comércio, Sanae Murayama Saito.
DEVE SER BEM PIOR
Apesar de altos, em comparação com o ano passado, os números se mostram pequenos. Em 2019, no mesmo período foram 5.960 empresas encerradas na região. No entanto, segundo o advogado Felipe Granito, que trabalha na área do direito empresarial, o número atual além de subnotificado, mostra um cenário ainda pior.
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De acordo com Granito, o número de empresários que fechou seu estabelecimento não é ao todo listado no balanço. A maioria permanece com dívidas acumuladas por causa da crise, o que impossibilita o encerramento do CNPJ.
"São dados que ainda não refletem a realidade, porque uma empresa só encerra oficialmente as atividades depois que quita as dívidas e os débitos bancários. O que temos hoje são números infinitamente maiores, com muitas empresas que já fecharam as portas, mas os proprietários não têm condições para pagar as contas que devem", afirmou.
Segundo o especialista, o resultado desses fechamentos vai ser visto ainda nos próximos meses, podendo ser refletido ainda até pelos próximos dois anos.
"O que a gente espera é pior do que já estávamos vivendo. Ainda estamos passando pelos reflexos de crises anteriores. No ano passado houve uma tendência de melhora, mas agora vai ser disparado. Uma crise dessa traz reflexos para vários anos", afirmou.
NÚMEROS INCALCULÁVEIS
Apesar do balanço da Jucesp, com os números oficiais de encerramento, o advogado citou ainda que só o número de bares e restaurantes fechados pela pandemia já se aproximam do balanço total.
Segundo a Abrasel (Associação Brasileira de Bares e Restaurantes), só o número de estabelecimentos de alimentação com operações encerradas chega a 4,5 mil na RMC.
Segundo Granito, o escritório em que trabalha, que tem entre suas expertises crise financeira e recuperação empresarial, recebeu de março até agora 128 empresas, com aumento de dois para oito clientes semanais buscando por orientações.
"Eles vêm em busca de ajuda quando estão prestes a fechar. Tentamos fazer a recuperação, readministração de contas e discutir com os bancos as melhores medidas, porque a recuperação judicial é a medida mais ineficaz", afirmou.
Segundo a Vara de Campinas do Tribunal de Justiça, de março a julho deste ano foram recebidos cinco pedidos de falência e recuperação judicial. No ano passado, o mesmo período recebeu apenas uma solicitação.