O laudo do Instituto de Criminalística feito após perícia na casa onde o menino de 11 anos era acorrentado a um barril e passava fome, em Campinas , apontou que havia comida armazenada em armários e em duas geladeiras da residência. Segundo a polícia, a criança estava presa ao local há cerca de um mês e era alimentada apenas com cascas de fruta e fubá cru. Ao ser libertada, ela estava com um grau severo de desnutrição.
O documento também avaliou que a casa, no Jardim Itatiaia, tinha condições adequadas para o desenvolvimento de uma criança, além de possuir eletrodomésticos, roupas e produtos de higiene pessoal. Ele foi libertado no dia 30 de janeiro e o caso ganhou repercussão nacional.
O documento revela ainda que foi encontrado um comedouro e bebedouro abastecido e com água limpa para os animas que viviam na residência. A madrasta do garoto era conhecida por recolher animais abandonados de rua e a Polícia Militar constatou que os cachorros eram bem tratados no local.
SITUAÇÃO DEGRADANTE
Enquanto isso, o menino ficava acorrentado nos pés e nas mãos a um barril na parte externa da casa, coberto por uma telha tipo brasillit e uma pia de mármore. Quando ele foi resgatado, o garoto chegou a dizer à polícia que estava com fome e que o local era um "castigo" por pegar comida sem autorização dos pais. O menino pesava 27 kg na época. O pai e a madrasta estão presos em penitenciárias de Tremembé.
O laudo indicou ainda que no fundo do tambor onde o menino era colocado foram encontradas cascas de banana já escurecidas e uma colher de plástico. Também foi encontrado um parafuso grande, que era usado para fixar a corrente junto com um cadeado, o que pode ser um agravante (leia mais abaixo). A Polícia Civil e os vizinhos desconfiam que o menino tenha ficado pelo menos um mês acorrentado no barril, sempre na mesma posição, de pé.
A casa, no entanto, tinha espaço segundo a perícia, com sala, cozinha, banheiro, dois quartos e garagem. Havia ventiladores em todos os cômodos e, na sala, TV e videogame, além de roupas e pacotes de fraldas para os outros filhos do casal. A perícia foi realizada no dia 30 de janeiro, no mesmo dia do caso ser descoberto.
AGRAVANTES
"O laudo pericial identifica elementos que poderão identificar as partes envolvidas, bem como a dinâmica do fato. Por exemplo, o fato de colocar a criança dentro de um barril é agravado por terem parafusos fixados na base dele que prendiam correntes no corpo, impedindo totalmente a locomoção do menino. Isso aumenta a situação de permanência da vítima no local, mesmo que o autor do crime não esteja no local", explicou o perito Eduardo Becker.
Além disso, as cascas de banana no fundo do tambor mostram que a criança era alimentada dentro do barril ou as pessoas jogavam como se fosse um cesto de lixo, segundo o perito. Becker explicou que isso será apurado com os depoimentos de testemunhas e dos réus.
"O tambor mostra que o menino estava em um local isolado, com pouca ventilação, e que eram colocados objetos para se esconder o que tinha no interior, por conta da manta que era colocada por cima. Essa questão toda diminui a circulação de ar e aumenta a precariedade da situação da criança. Não bastava ser dentro do tambor, tinha a falta de ar e o aumento de calor", analisou.
O perito explicou que havia cômodos e comida suficientes para todos que moravam no local, o que agrava a situação do menino. "Havia aparelhos eletrônicos que são incompatíveis com a justificativa de falta de dinheiro. Em um cômodo tinha aparelhos de R$ 4 mil e a criança naquela situação. Havia número de colchões superior a quantidade de pessoas que habitavam a casa. Havia máquina de café de cápsula, que é um artigo de luxo", disse.
REPERCUSSÃO
Depois da repercussão nacional do crime, a casa foi depredada. O menino continua em um abrigo, a pedido do MP (Ministério Público), e recebeu diversas doações, incluindo bolsas de estudos internacionais, além de uma vakinha on-line.
O casal, o pai do menino, um auxiliar de serviços gerais de 31 anos, sua mulher, uma faxineira, de 39, e a filha dela, uma vendedora de 22 anos, foram presos em flagrante por tortura e omissão, ainda no dia em que o garoto foi resgatado.