A infectologista da Unicamp e consultora da Sociedade Brasileira de Infectologia Raquel Stucchi acredita que a mutação do coronavíurus , chamada de P.1., e identificada primeiro no país em Manaus, já circula em Campinas desde o ano passado. Hoje (17), o Devisa (Departamento de Vigilância em Saúde) fez um alerta e informou que a nova variante já deve estar circulando por Campinas.
Segundo o órgão ligado a secretaria de Saúde, houve um aumento de casos e internações e por conta disso, a pasta conseguiu autorização para realizar o sequenciamento genético de pacientes junto ao Instituto Adolfo Lutz.
A variante é mais transmissível, embora não se tenha confirmação de que seja mais letal. Oficialmente, a variante foi confirmada pela Secretaria Municipal de Saúde na última segunda-feira (15). Trata-se de uma paciente de 78 anos que veio de Manaus no dia 14 de janeiro e desembarcou no Aeroporto Internacional de Viracopos.
"Essa nova variante com certeza já circula há muito tempo entre nós. Isso em parte é uma das explicações para o aumento no número de casos na região, e se deu principalmente pelo fato das pessoas terem relaxado com as medidas de proteção contra o coronavírus", explica a infectologista.
Além do Estado de São Paulo, o Ministério da Saúde divulgou que a nova variante já foi confirmada no Amazonas - onde ela surgiu pela primeira vez -, Ceará, Espírito Santo, Pará, Paraíba, Piauí, Rio de Janeiro, Roraima e Santa Catarina. Segundo autoridades de saúde locais, há registros na Bahia e um episódio autóctone registrado no Rio Grande do Sul.
MAS VOCÊ SABE O QUE É A NOVA VARIANTE?
Nas últimas semanas, muito tem se falado sobre a nova variante de coronavírus, e vários questionamentos se formaram em torno do tema. Diante disso, o ACidade ON Campinas
conversou com a infectologista Raquel Stucchi, a fim de entender como a mutação age.
Segundo Raquel, uma variante é uma mudança que ocorre de forma aleatória no material genético do vírus. Ainda segundo ela, é esperado que, durante uma pandemia, o vírus sofra mutações conforme ele é transmitido de pessoa para pessoa.
"Quando o vírus se transmite muito, ele também se multiplica muito. A cada multiplicação ele não sai igualzinho ao anterior, então o vírus vai se multiplicando e ficando um pouco diferente em relação ao vírus original", explana.
VARIANTES QUE PREOCUPAM
Conforme a infectologista, a mutação já é considerada mais transmissível que o vírus original da covid-19 e tem preocupado cientistas.
"Essas variantes que foram descritas desde o final do ano, como a do Reino Unido, África do Sul e Brasil, são variantes que preocupam e chamam atenção, porque são mutações que transmitem com muito mais facilidade do que o vírus original", comenta.
Ainda segundo ela, não há indicativos que comprovem diferenças em relação ao sintomas e gravidades da doença. Ou seja, ainda não se sabe se a mutação é mais letal que o vírus original. Contudo, sua detecção requer exames mais detalhados, por meio de sequenciamento genético.
"Para detectar ou fazer o diagnóstico de uma nova variante são necessários exames mais sofisticados, onde é feito uma análise genética do vírus, a fim de diferenciar a variante do vírus original. Então nesse caso, não são detectadas em exames de rotina, como os testes rápidos ou de sangue".
AS VACINAS SÃO EFICAZES?
Apesar de haver a preocupação sobre as vacinas serem ou não eficazes contra a nova variante, a infectologista destaca que não há nenhum estudo que indique a ineficácia dos imunizantes já desenvolvidos e aprovados para aplicação no Brasil.
"O que se sabe até o momento é que as vacinas são eficazes e nos protegem contra essas novas variantes. Mas é possível que novas variantes surjam e as vacinas não sejam mais efetivas".
O Instituto Butantan, que produz a Coronavac no país, divulgou que testes sobre a eficácia da vacina chinesa contra a variante já estão em curso e devem ser concluídos nas próximas semanas.
Já a AstraZeneca, parceira de Oxford e da Fiocruz, também anunciou que já iniciou estudos.
PROTEÇÃO CONTINUA
Por fim, Raquel ressalta que, mesmo com a mutação do vírus, as medidas para evitar o contágio da covid-19 adotadas no mundo todo desde o começo da pandemia continuam válidas e necessárias.
"Apesar de se transmitirem mais, as medidas de bloqueio de transmissão que nós já sabemos há um ano são tão eficazes quanto, como o uso de máscara, distanciamento social, uso de álcool em gel, evitar aglomeração, e outros", finaliza.