A Prefeitura de Campinas anunciou nesta quarta-feira (24) que não adotará o uso do kit covid na rede pública de saúde. O kit é defendido por alguns médicos e pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido) como um tratamento precoce contra coronavírus . A decisão é válida para os serviços municipais, entre eles os hospitais Mário Gatti, Ouro Verde e Metropolitano, além das UPAs (Unidades de Pronto Atendimento) e unidades básicas.
O tratamento precoce envolve remédios como a ivermectina, a hidroxicloroquina e a azitromicina e não tem a eficácia comprovada contra o coronavírus. Inclusive, a farmacêutica norte-americana MSD (Merck Sharp and Dohme), que produz a ivermectina, afirmou que ainda não há evidências de que o medicamento traga benefícios ou seja eficaz no tratamento da covid-19.
Ontem, o HC (Hospital de Clínicas) da Unicamp confirmou que um paciente de cerca de 50 anos teve hepatite medicamentosa por conta do uso dos remédios do kit. Além do homem atendido em Campinas desde o final de janeiro, transferido da capital, outras quatro pessoas também foram atendidas em São Paulo e levadas à fila de transplante de fígado após usarem o kit covid.
Já hoje, o Devisa (Departamento de Vigilância em Saúde) de Campinas confirmou que existe um segundo caso do tipo no município, que ocorreu em um hospital particular. Os detalhes deste outro caso não foram informados.
Segundo o secretário de Saúde de Campinas, Lair Zambon, o kit covid não tem eficácia comprovada e, por isso, não será adotado no município. "É um assunto polêmico, mas só no Brasil. Essa conversa não existe no mundo. Porque não funciona. Mais de 80 entidades médicas vetaram o kit covid. E o próprio fabricante (da ivermectina) falou que não funciona", disse ele.
O secretário explicou ainda que se houvesse um caso hipotético de estudo da eficácia do kit covid em 2 mil pessoas, sendo que metade receberia o tratamento precoce e outra metade, o placebo, ainda assim todos poderiam pegar covid-19 e evoluiriam em casos leves ou graves.
"Isso porque 90% das pessoas são assintomáticas. As outras 10% terão que procurar assistência médica e, metade delas, serão internadas. Isso ocorre independente de tomar o kit covid ou não", explicou.
Vale lembrar que a hidroxicloroquina é um remédio usado, normalmente, em pacientes com lúpus, artrite reumatoide, doenças fotossensíveis e malária. Já a ivermectina é um vermífugo. A azitromicina é um antibiótico, recomendado para casos de infecção bacteriana.