O HC (Hospital de Clínicas) da Unicamp, em Campinas, informou nesta quarta-feira (2) que a maioria dos pacientes internados na ala covid da unidade têm idade entre 50 e 59 anos. Ontem (1º), o hospital anunciou a suspensão de atendimento por 48 horas devido a superlotação do PS (Pronto-Socorro), além do adiamento das cirurgias eletiva (não urgentes) até o dia 7 de junho.
De acordo com o superintendente do HC de Campinas, Antônio Gonçalves de Oliveira Filho, a população mais jovem internada com covid hoje no hospital é um reflexo da vacinação de idosos (acima de 60 anos), iniciada em janeiro deste ano em Campinas e no estado de São Paulo. Além disso, há uma demanda maior de internações de outras especialidades, muitas delas realizadas pelo HC por serem de alta complexidade.
"Teve uma diminuição depois desta ação (de suspensão). Mas ontem estávamos com seis pacientes esperando para fazer cateterismo, com sintomas de infarto. Essa é a demanda de não covid que está pressionando muito. Porque muitas coisas não são feitas nos hospitais da região. Como transplante, o medicamento de trombólise para AVC, e o cateterismo que temos serviço 24 horas", explicou.
Sobre a faixa etária, para o médico a população está sendo mais acometida e isso é visto tanto nos pacientes internados no HC como em estudos em andamento. "O pico de abril foi maior que o de junho e julho do ano passado. Ainda não estamos em um pico maior que o visto na segunda onda (em março), mas temos dados que nessas faixas etárias (50 a 59 anos) está maior que a segunda onda (em relação às internações)", disse.
NOVO PERFIL
O médico infectologista Plínio Trabasso também acredita que a covid tem afetado mais as pessoas entre 50 e 59 anos devido a vacinação de idosos. "A vacina priorizou acima da faixa etária de 60 anos, gradativamente acima de 90 anos primeiro. Isso propiciou a redução da gravidade da covid nesta população e, obviamente, deslocou a ocorrência dos casos em pacientes não cobertos pela vacinação".
Ele afirmou ainda que a faixa etária mais jovem é menos aderente às medidas de isolamento social contra o coronavírus. "Temos as festas clandestinas, as aglomerações, e a maior parte das pessoas que fazem essa quebra do isolamento social são indivíduos da faixa etária menor. O que propicia a infecção da população não vacinada".
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REPIQUE DE CASO
Trabasso falou ainda que acredita que estes casos de agora são um "repique" do que foi vivenciado em março - mês considerado mais letal da pandemia em Campinas. "Tivemos uma arrefecida em maio, mas no final do mês tivemos um repique. Nós saímos de uma média de 20, 25 pacientes internados por dia em fevereiro, subimos para 120 por dia no final de março e abril. Começamos a decrescer para 70 a 80 e, a partir deste ponto elevado, tivemos repique. E, agora, temos mais de 100 pacientes internados com covid", disse.
COMO ESTÁ
Hoje, quatro pacientes estão na unidade com decisão de internação, há ainda quatro na ala covid, sendo que dois estão intubados. Do restante, chamados de pacientes clínicos, nenhum aguarda cirurgia. No total, deste grupo, são 32. Já na terça-feira, o PS estava com 62 pacientes, sendo 38 com indicação de internação em enfermarias.
"Estávamos com salas de urgência que não dava para colocar outro paciente. Tivemos que fazer a medida de suspender a cirurgia eletiva e estamos atuando cirurgicamente. O que significa falar que chegou o momento crítico. Mas nossa previsão é de retomar já na segunda-feira (7)".
Por dia, geralmente, o HC atende 20 pacientes que realizam cirurgias eletivas na unidade. Com as restrições já praticadas por conta da covid-19, serão cerca de 10 pacientes que não serão operados hoje.
LOTAÇÃO DO PS
Ontem, o PS estava trabalhando com 295% da capacidade operacional, o que inclui as duas salas de emergência (Vermelha), destinadas à estabilização dos pacientes graves que chegam à unidade. Por conta da situação, a Unicamp solicitou hoje aos órgãos reguladores, como a CROOSS (Central Estadual de Regulação de Vagas), aos serviços de resgate das rodovias da RMC, ao SAMU, aos bombeiros, às prefeituras da região e ao grupamento Águia da PM, a suspensão do encaminhamento de pacientes para a Unidade de Emergência Referenciada (PS).
"Temos que tomar medidas para equacionar, senão você compromete a saúde do paciente que está ali para ser atendido e toda a equipe, que fica em um nível difícil de lidar", explicou o médico.
Em março, o HC também havia suspendido todos os atendimentos em Campinas e as cirurgias eletivas realizadas no local após atingir lotação máxima na UTI (Unidade de Tratamento Intensivo) de covid-19. O mês foi considerado o mais letal da pandemia.