Caism identifica alta de mortes por câncer de mama em mulheres negras e pardas.
Divulgação/Unicamp
Caism identifica alta de mortes por câncer de mama em mulheres negras e pardas.


Um estudo de pesquisadores do Caism (Hospital da Mulher José Aristodemo Pinotti da Unicamp), de Campinas, aponta que  há uma tendência de aumento na taxa de mortalidade por câncer de mama em mulheres pretas e pardas no estado de São Paulo. Além disso, há indicação de redução para as mulheres brancas.

Entre o período de 2000 a 2017, foram registrados 60.940 óbitos por câncer de mama no estado, sendo 46.365 em mulheres brancas e 10.588 em mulheres negras.

Na opinião da principal autora do estudo, Diama do Vale, há uma desigualdade no acesso às políticas de controle de câncer em função da raça.

"Já foi demonstrado que as mulheres pretas são diagnosticadas com tumores mais avançados. Isso indica que, provavelmente, as melhorias observadas no diagnóstico e no tratamento de câncer de mama no período só estão sendo percebidas pelas mulheres brancas", apontou.

Para identificar a disparidade, os números das taxas de mortalidade foram separados por ano, grupos de raça e idade para cada 100.000 mulheres.

Em mulheres brancas, a taxa caiu de 19,1 em 2005 a 16 em 2014, sendo então uma redução de 16,2%. Enquanto para as mulheres pretas a taxa aumentou de 7 em 2006 para 9,6 em 2017, um crescimento de 37,1%.

TAXA DE MORTALIDADE

A taxa de mortalidade é fortemente influenciada pelo estágio do diagnóstico e pelo tratamento. E o estágio do diagnóstico varia conforme o acesso e a adesão das mulheres a programas de diagnóstico precoce.

Quando aplicado sistematicamente à população-alvo, a mamografia reduz a mortalidade. Mas os dados apontam que as taxas de mortalidade diminuíram em países de alta renda, e aumentaram em países de baixa e média renda.

Para a pesquisadora, esse problema de disparidade racial antecede à necessidade de mamografia para o rastreamento, pois mesmo quando são diagnosticadas, as mulheres pretas percorrem um caminho maior para o tratamento.

"Esta população tem um maior grau de analfabetismo, menor renda, usa menos serviços de saúde e depende mais do sistema. As taxas de reconstrução mamárias, por exemplo, são maiores entre as mulheres brancas", informou a pesquisadora, que também avalia que o racismo estrutural dificulta o acesso aos serviços de saúde e compromete a qualidade do atendimento.

Na América Latina, 41% das mulheres são diagnosticadas nos estágios III e IV, contribuindo para a incidência e a mortalidade da doença.


DIAGNÓSTICO

Apesar da professora da Unicamp apontar que mulheres pretas e pardas apresentam alguma pré-disposição genética ao câncer de mama mais agressivos, segundo ela, mesmo quando esses tumores acontecem em mulheres brancas, são as mulheres pretas que apresentam maior atraso no diagnóstico e no início de tratamento, contribuindo para a elevação da mortalidade.

"Mas como esses tumores não são os mais frequentes, esta predisposição teria um impacto pequeno, que não explicaria todas as disparidades observadas", explicou.

Ainda de acordo com os dados do estudo do Caism publicado pela revista médica BMC Cancer, também foi investigado se as piores taxas poderiam ser atribuídas a melhorias na qualidade do registro, nas certidões de óbito ou a quedas em outras causas significativas para a população vulnerável, como causas externas ou violentas. Mas isso não foi confirmado.

"Esperamos que nosso estudo possa apoiar o planejamento de políticas públicas específicas para o controle global do câncer nas mulheres negras," conclui a pesquisadora Diama do Valle.

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