A Polícia Civil de Campinas indiciou nesta quarta-feira (17) a mulher acusada de xingar a vereadora Paolla Miguel (PT) de "preta lixo" durante uma sessão na Câmara no último dia 8. Ela prestou depoimento na sede da DIG (Delegacia de Investigações Gerais) durante a manhã, assim como outras duas testemunhas.
A suspeita foi identificada por um vereador no último dia 11. Segundo o delegado responsável pelo caso, José Glauco Pereira, a indiciada foi identificada porque estava sem máscara nas galerias do plenário quando ofendeu a vereadora.
A DIG confirmou que ela é filiada a um partido de direita, mas não detalhou a sigla. Os investigadores não revelaram outros dados, como a idade e o local onde mora, mas afirmam ter indícios de que ela praticou o crime sozinha. Segunda a polícia, a suspeita nega ter praticado a injúria.
"Diante dos fatos e das declarações que tive acesso por meio da imprensa, gostaria de lembrar a sociedade que raramente pessoas acusadas de injúria racial admitem seus crimes, mesmo diante de situações flagrantes, com testemunhas e vídeos que podem servir como provas. Frente a verdade, essas pessoas mentem, distorcem a realidade e, muitas vezes, até mesmo se auto declaram portadoras de problemas de saúde mental, como se não tivessem controle de suas palavras cheias de ódio e racismo", escreveu Paolla em nota oficial publicada nas redes sociais nesta tarde.
"O racismo brasileiro é cruel com mulheres e homens pretos há séculos. Nas periferias, isso se traduz em violência física, simbólica e exclusão social. Quando um de nós consegue chegar aos espaços de poder, o racismo se traduz em xingamentos e humilhações, como os que vimos na Câmara Municipal. Essa lógica perversa só poderá ser mudada quando a Justiça tomar para si o compromisso de fazer deste país uma nação diversa e antirracista de verdade, intolerante com racistas flagrantes", completou.
No dia 12, Paolla e outros quatro parlamentares que presenciaram a ofensa prestaram depoimento sobre a injúria racial. Além de ouvir todos os envolvidos no caso, a DIG também analisou o áudio e as imagens da reunião.
O conteúdo gravado em plenário também será alvo de apuração da presidência da Câmara de Campinas.
O CASO
Na sessão ordinária do último dia 8, a vereadora Paolla Miguel falava na tribuna justamente sobre o preconceito durante a discussão sobre a criação do Conselho de Desenvolvimento e Participação da Comunidade Negra.
Enquanto ela discursava, manifestantes que protestavam contra o passaporte da vacina contra Covid passaram a vaiar a fala. Uma das integrantes do grupo gritou "preta lixo" para Paolla.
Vários membros da Casa ouviram o ataque racista e denunciaram o caso na tribuna. O xingamento repercutiu entre o meio político e gerou reação também de diversos órgãos e entidades, como a OAB (Ordem dos Advogados do Brasil).
Dois dias depois, centenas de manifestantes de grupos sociais e partidos de esquerda protestaram em apoio à vereadora. O ato se concentrou do lado de fora, mas também aconteceu dentro da Câmara Municipal.